quinta-feira, 10 de abril de 2014

"Para si, que dá umas chapadas à sua mulher"


Pensei muito antes de lhe escrever uma carta destas. Não queria fazê-lo de ânimo leve. Ou, pior ainda, de cabeça quente, depois de ler um qualquer artigo sobre violência doméstica, sobre casas de abrigo para mulheres maltratadas, sobre um julgamento em que um homem foi condenado e uma mulher recebeu uma indemnização miserável ou sobre filhos que crescem em ambientes descompensados. Já ando com esta ideia na cabeça há uma série de tempo e não sabia bem como fazê-lo, porque queria ter a certeza que isto chegava a bom porto. Queria ter a certeza que a leria. Que você a leria. Espero que o título tenha captado a sua atenção.

Também não queria cair num populismo exagerado. É que, sabe, escrever uma carta a um marido abusador e dizer que ele é uma besta e que um dia terá o que merece... isso é fácil. A sério. Qualquer pessoa pode fazê-lo. Qualquer pessoa lho pode dizer. Até o seu vizinho do lado. Ou de baixo. Ou de cima. Um desses que desconfia do que se passa na sua casa, porque ouve a sua mulher a gritar e os seus filhos a chorar. Um desses que já por mais que uma vez teve vontade de ir aí, bater-lhe à porta, e enfiar-lhe um soco no nariz, para o deixar, a si, como o leitor deixa a sua mulher às vezes - e só não o fez porque a mulher dele não o deixou. Porque você é maluco. Porque pode ter uma arma. Porque «com pessoas assim nunca se sabe»... Um desses vizinhos que até já pegou no telefone para ligar para a polícia e denunciar o que se passa aí, entre quatro paredes. Entre as suas quatro paredes. Numa dessas até já enfiou a cabeça da sua mulher, lembra-se?

Como o que você faz é um crime público, qualquer pessoa pode denunciá-lo. Sabe isso, não sabe? Não precisa de ser a sua mulher. Ou a sua filha. Também pode ser o tal vizinho que baixa os olhos quando você entra no elevador, porque tem vergonha alheia. Vergonha de viver no mesmo prédio. Vergonha de saber e não fazer nada.



Leiam o resto desta crónica de Paulo Farinha (jornalista e autor do blog A Farmácia de Serviço) AQUI

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